CUIDANDO DA MEDICAÇÃO
Não é por nada que um remédio está dentro de uma cápsula ou é um comprimido ou que a cor do vidro é âmbar. Nem todo comprimido pode ser cortado ao meio. Alguns medicamentos precisam ser guardados em geladeira, outros não. Outros vem em temperatura ambiente mas após utilizados pela primeira vez, devem ser mantidos sob refrigeração. Há uns que funcionam melhor se ingeridos em jejum, outros após as refeições e há até uns que não podem ser ingeridos próximo a outros. Tudo isto se deve ao fato de que cada substância é única e possui sua melhor absorção ou metabolismo para exercer completamente sua função.
Nas consultas que faço diariamente, é frequente as dúvidas frente a medicações. Elucidarei aqui as mais comuns que são feitas em meu dia.
- Todo comprimido pode ser cortado ao meio?
Não. Há muitos comprimidos que se cortados ao meio perderão sua ação ou ela não será completa. Existem remédios que precisam chegar inteiros ao estômago para serem absorvidos mais abaixo, no intestino, e que se alguma parte deles tiverem contato com a acidez do estômago, perderão a ação ou a mesma não será completa. Além do mais, não é garantido que se cortado ao meio, haverá 50% da dosagem de cada lado, mesmo cortando bem no centro com cortador de comprimidos.
De modo geral, os remédios que podem ser cortados ao meio apresentam um sulco (risco) no meio do comprimido, indicando o local a ser cortado. Se não há, o melhor é não cortar o comprimido. Os que apresentam, após seu nome comercial, letras tipo XL, SR, XR, CR ou LP não devem ser partidos, triturados ou mastigados, pois são de liberação prolongada (ou seja, vão sendo liberados e absorvidos aos poucos pelo organismo, conforme vão “andando” pelo trato gastrointestinal).
Na bula há especificação se o remédio pode ser triturado, cortado ou mastigado.
- Posso tomar o remédio com qualquer líquido?
O veículo ideal para ingerir os remédios é água. E o ideal é que, ao engolir qualquer comprimido, o indivíduo beba pelo menos um copo cheio d’água, a fim de fazer com que a substância chegue inteira ao estômago e com maior rapidez. Não é recomendado ingerir com álcool, pois o álcool pode prejudicar o efeito do remédio e há fármacos que podem potencializar os efeitos danosos do álcool.
- Posso guardar na geladeira os comprimidos?
Na maioria dos casos, comprimidos devem ser guardados em local fechado, longe de umidade (como banheiros) e de calor excessivo (próximo de fogões, fornos, geladeiras e locais que recebem luz do sol). O ideal é o remédio ficar em sua própria caixa, dentro de um armário, e sempre longe do alcance de crianças ou de idosos com demência.
No bulário de cada há uma observação sobre conservação, que deve ser obedecida.
- Muitas insulinas devem ser guardadas em geladeira. Pode ser na porta da geladeira?
Não. As insulinas que precisam de refrigeração devem ser mantidas na prateleira interna da geladeira, preferencialmente na do meio, nem tão próxima do freezer nem da parte inferior do aparelho e jamais na prateleira da porta. Devem ser retiradas apenas na hora de ser manuseada e logo em seguida guardadas novamente. Se houver falta de luz por algumas horas, elas devem ser descartadas por perderem sua eficácia.
- Posso tomar mais de um comprimido de uma só vez?
A princípio não há problemas em ingerir os remédios juntos, salvo se houver alguma interação medicamentosa entre eles que atrapalhe a função de um ou de outro (por exemplo, remédios para gastrite, como omeprazol, não devem ser tomados junto ou perto de tratamento com ferro para anemia). Todos os remédios devem ser engolidos com boa quantidade de água. Eu sempre sugiro que a medicação deve ser tomada pelo menos com um copo de agua, para que os comprimidos ou líquidos cheguem inteiros e mais rápido ao estômago, sem correrem o risco de serem dissolvidos ou fazerem um trânsito lento pelo esôfago.
- As cápsulas podem ser abertas?
Não. Os fármacos em cápsula estão dentro destas para que a cápsula seja degradada em local exato do trato gastrointestinal para o que tiver dentro ser absorvido de forma correta.
- Se eu me esquecer de tomar uma dose do remédio, tomo o dobro no dia seguinte?
Nunca. Caso se esqueça de ingerir o remédio, no outro dia (ou no próximo horário de tomada, se for mais de uma vez ao dia) tome a dose habitual. O uso de dose dobrada pode acabar fazendo mal. Se o esquecimento da ingestão for de apenas algumas horas do horário habitual, administre a medicação assim que se recordar para não ficar sem a substância em seu organismo. Procure sempre fazer uma rotina correta de horário para a tomada deles. Leia a bula ou se informe com seu médico na dúvida.
- Se eu apresentar efeito colateral de algum remédio, o ideal é tomar um outro para amenizar este desconforto?
Não. Se isto acontecer, procure o médico que prescreveu o remédio para que este lhe oriente se isto é um efeito colateral e que faça a substituição deste remédio por outro. e a pessoa apresenta efeitos indesejados a uma substância, esta deve ser substituída por outra que tenha a mesma ação esperada pelo que foi dadopreviamente sem ter o efeito colateral. Por exemplo: existe um remédio para o tratamento da pressão alta chamado anlodipino que gera inchaço nos pés em algumas pessoas. Para melhorar isto, em vez de se acrescentar algo a mais para se tomar para aliviar este sintoma, melhor é substituir este remédio por outro que baixe a pressão, mas que não gere este problema.
- Tomo muitos remédios ao dia. Preciso tomar remédio para o estômago por causa disto?
Não. Remédios para o estômago são utilizados quando se tem problema de estômago e, geralmente, por tempo determinado. Muitos fármacos não geram problemas estomacais e não deve ser acrescentado mais um remédio (que possui indicações, contraindicações e riscos) por causa do número de remédios que se ingere. Remédios como omeprazol e seus semelhantes interferem na absorção de nutrientes (como a vitamina B12), predispõem à osteoporose e a outros efeitos colaterais. Só podem ser utilizados com orientação médica.
- Remédios homeopáticos têm risco de interagirem com outros?
Sim. Assim como outros fármacos, eles têm interações medicamentosas, efeitos colaterais, indicações e contraindicações. Apesar de fitoterápicos, são remédios!
- Todo mundo deve tomar vitaminas?
Não. As principais vitaminais são provenientes de uma boa dieta balanceada. Excesso de vitaminas pode sobrecarregar fígado e rins. Não se deve tomar vitaminas sem orientação médica.
- “Minha vizinha me deu um remédio para dor que fez muito bem a ela. Vou experimentar para ver se resolve a minha dor.”
Não faça isto, em hipótese alguma! O remédio que sua vizinha tomou pode ter feito bem para ela, indicado para o problema dela e para organismo dela. Nunca se deve fazer a automedicação, mesmo de medicamentos que não sejam controlados (aqueles que a farmácia retém a receita). Há muitos remédios vendidos sem receita médica que têm muitos efeitos colaterais e trazem riscos (como por exemplo, antiinflamatórios, tão utilizados para dor, que podem gerar úlceras no estômago, insuficiência renal e comprometimento cardíaco). Independentemente de você estar tendo sintomas semelhantes ao de algum conhecido, é fundamental consultar um médico para este fazer o diagnóstico preciso e indicar o tratamento correto.
- Devo parar remédios para pressão alta e diabetes quando elas estiverem controladas? Devo tomar somente quando estão descompensadas?
Não. O raciocínio é o seguinte: “Se estou com a pressão e o diabetes controlado, é porque o tratamento que estou fazendo está correto e deve ser mantido.”
Há situações em que os remédios são diminuídos e até suspensos, porém somente seu médico poderá fazer isto.
- Remédios para depressão podem ser parados assim que eu me sentir mais animado e feliz?
Não. O tratamento da depressão deve ser prolongado após a estabilização dos sintomas para evitar recaída. E a retirada destes fármacos deve ser gradual, não abruptamente. Cabe ressaltar também que não têm benefício se tomados “quando estou triste”, devendo ser tomados diariamente.
- Posso retirar os comprimidos e cápsulas dos blisters e colocá-los em potes para facilitar o uso?
Procure não fazer isto. Geralmente os blisters são feitos para um melhor condicionamento e conservação do fármaco, além de constarem informações quanto ao nome do princípio ativo, dosagem e validade. O ideal é sempre manter na embalagem original e só retirar o comprimido ou cápsula que irá ingerir, no momento que for fazer isto. O armazenamento e os cuidados com os remédios são fundamentais para a conservação e preservação de sua função quando tomados. Umidade, calor ou frio excessivos e luz solar interferem com as substâncias, invalidando-as ou fazendo com que tenham efeito alterado.
- Os remédios que posso comprar sem receita médica podem fazer mal à saúde?
Com certeza. O fato de não ser necessário apresentar receita médica não significa que não possam ter efeitos colaterais graves, assim como contraindicações. Nunca faça automedicação!
- Qual a diferença entre remédio genérico, similar e referência?
Todos possuem o mesmo princípio ativo, a mesma substância que faz o efeito. O de referência é o original, geralmente foi o mais estudado, se tornando, como o nome diz, referência para o tratamento da patologia a qual é indicado. O genérico deve ter a bioequivalência (ou seja, fazer o mesmo efeito) que o de referência, comprovado através de exames específicos. O similar é um fármaco que possui o princípio ativo do genérico e do de referência e que, para ser comercializado, deve ter sido aprovado para ter o mesmo efeito, porém com outro nome fantasia, já que é feito e produzido por outro laboratório.
- Quando vou a uma consulta médica, devo levar o nome dos remédios para mostrar?
Isto é mandatório. Quando se vai a qualquer consulta médica, é importantíssimo relatar o que se usa continuamente. Sempre que possível, leve a “sacola dos remédios”, com as embalagens e os remédios para mostrar como está tomando cada um, até para o médico poder orientar e organizar caso haja algum erro de tomada. Se não desejar fazer isto, leve pelo menos anotado o nome, a concentração e como está tomando. E se tem alergia ou intolerância a algum, também leve por escrito para não esquecer de falar. Como por exemplo:
– Hidroclorotiazida 25mg – 1 comprimido de manhã
– Metformina 850mg – 1comprimido após café, almoço e jantar
– Rosuvastatina 20mg – 1 comprimido após o jantar
Tenho alergia a penicilina e dipirona.
Dizer que toma um remédio redondo, branquinho, amarelo, da caixa rosa, etc… não vai ajudar em nada em se saber qual é o remédio, pois há muitos fármacos parecidos, tanto em embalagem, como em apresentação.
