NOSSO CORPO ENVELHECE

Nestes meus vinte anos de trabalho como médico, pouco ouvi dos pacientes que estejam acima dos 60 anos me dizendo que estão vivendo a famosa “melhor idade”. Muitos dizem: “Como tinha mais saúde na juventude!”; “Ah, se eu pudesse voltar 20 anos atrás e fazer o que eu fazia…”; “Como eu gostaria de ter a sabedoria que tenho agora, mas com o vigor físico que tinha aos 30 anos!”; embora também tenham pessoas que se sintam melhor agora que anteriormente, alegando que a idade trouxe mais experiência, sabedoria e manutenção da vitalidade física e mental.

A velhice não é a melhor idade do ser humano, definitivamente.  Grande parte dos idosos sentem dores, apresentam limitações físicas para exercer atividades antes corriqueiras, têm dificuldades para enxergar e ouvir, a pele fica frágil, os órgãos já não respondem mais às demandas como na juventude. Mas por que isto acontece? Por que não ficamos vivendo como jovens de 20 anos de idade? Por que adoecemos mais quando ficamos idosos? Por que a morte ocorre na velhice?

Existem diversas teorias que explicam o envelhecimento. De uma forma simples, quero explicar isto. Para nosso desenvolvimento, nossas células vão se multiplicando constante e permanentemente. Com o passar das multiplicações (assim como eram com as máquinas de xerox no passado, em que se você pegasse uma página de um livro e copiasse e, a partir desta cópia, fizesse outra cópia, e desta outra mais uma, e assim sucessivamente, perdendo a qualidade com o passar das cópias) as células que formam nosso corpo também vão diminuindo a sua “qualidade”, ficando defeituosas, o que favorece o envelhecimento, assim como o desenvolvimento de doenças.  Isto se deve pelo fato de que, cada vez que as células se “copiam”, vão ficando mais propensas a defeitos, assim como as máquinas de fotocópias do passado.

Mas então, por que todo mundo não envelhece igual? Por que têm idosos com 70 anos saudáveis e outros da mesma idade doentes? Por que uns parecem ser mais velhos que outros? Isto se deve ao fato de que, conforme a ação de fatores (como nossa genética e nossos hábitos de vida) deixamos nossas células mais propensas a “defeitos”, o que faz com que, a cada cópia, surjam mais células predispostas a defeitos.  Assim sendo, uma pessoa que teve em sua vida um cuidado maior com suas células, terá um envelhecimento mais saudável que a outra que não teve. Eu comparo o envelhecimento com uma planta. Se você plantou uma semente numa terra fértil, cuidou dela, regou com dedicação, expôs a luz solar no período certo, podou os galhos no momento certo, evitou que insetos e ervas daninhas usufruíssem dela, ela será vistosa e saudável. (Ou seja: se você soube cuidar de sua saúde, terá grande probabilidade de ter um bom envelhecimento). Em contrapartida, se a terra era ruim, se você não prestou atenção adequada em regar, deixou apenas na sombra ou no sol excessivo, não impediu que as larvas atacassem as folhas, a planta será doente e viverá menos. (Assim como com o corpo. Se a pessoa fuma, não come adequadamente, não pratica exercícios físicos, tem mais chances de ficar doente e ter uma vida mais curta ou menos saudável).

E como cuidar de nossas células e de nosso corpo? A resposta é muito simples, porém necessita de vigilância e atenção permanentes. Fazer atividade física, ingerir quantidades suficientes de água, alimentar-se em quantidade correta e com alimentos saudáveis (vegetais, frutas, legumes, grãos e carnes magras) auxiliam a preservar nossas células para que elas funcionem melhor.  Cigarro, poluição, álcool, alimentos inadequados (principalmente os processados, além das gorduras, açúcares, embutidos, carnes processadas) assim como o excesso de alimentação, fazem com que nosso corpo fabrique radicais livres que danificam as células, promovendo o desenvolvimento de doenças degenerativas, envelhecimento precoce e doenças crônicas (como câncer, diabetes, Alzheimer, enfisema pulmonar, cirrose hepática, pressão alta, entre tantas outras). Infelizmente, mesmo que se tenha todo o cuidado de hábitos saudáveis, nosso corpo produz radicais livres que podem danificar nossas células, porém em muito menor quantidade em relação às pessoas que exercem maus hábitos.

Assim sendo, o envelhecimento é inevitável, mas cada um fará seu caminho, seja melhor ou pior, dependendo das escolhas diárias que fizer.

Venha comigo! Tenho certeza de que você vai aprender muito. Espero que seja uma leitura prazerosa.

Fiz com carinho para você.

Atenciosamente

Daniel Marcolin.  Sou médico formado em 2002 pela Universidade de Passo Fundo, tenho duas residências médicas: a primeira em Medicina Interna e a segunda Geriatra, mestrado em Envelhecimento Humano,  sou professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, ministrando as disciplinas de Semiologia e Relação Médico Paciente e de Geriatria e Cuidados Paliativos; Coordenador e supervisor do Programa de Residência Médica de Geriatria do Hospital São Vicente de Paulo, além de prestar atendimento no consultório e em instituição de longa permanência. Sou casado e tenho três filhos. Escrevi este livro nas altas horas da madrugada ou cedo pela manhã, utilizando palavras claras, evitando termos técnicos, com o objetivo de ajudar na compreensão das pessoas leigas sobre este maravilhoso e vasto tema que é o envelhecimento humano.